REPORTAGEM
por Mario Calligiuri
Quando se fala em transgêneros (transexuais e travestis), a primeira imagem que muitos têm é da prostituição. Não é difícil imaginar o porquê, já que, em inúmeras cidades, é possível ver as profissionais do sexo – e basta uma rápida pesquisa na internet para que uma centena de sites de acompanhantes pipoque na tela.
Agora, o que poucos sabem é que há bonecas que não vivem da prostituição: são casadas, assumidas perante a sociedade e, muitas vezes, até vivem distantes dos círculos de amizades formados por outras trans.
Longe das ruas
Fernanda Travassos*, 27 anos, proprietária de um estúdio de beleza, é casada há cinco com Gilberto Lima, 24. Os dois levam uma vida comum e são respeitados onde quer que estejam. Segundo Gilberto, não existe fórmula para não ser discriminado, mas personalidade: “Você precisa saber se impor, fazer o seu melhor e saber se realmente está a fim de enfrentar os olhos tortos de algumas pessoas”.
Entretanto, a história de Fernanda nem sempre foi assim. Desde a adolescência, quando ela já era feminina, começaram os atritos com a mãe, evangélica e conservadora. As brigas, porém, não a estimularam a partir para a noite e seu lado mais fácil: Fernanda enfrentou as dificuldades, ganhou apoio do pai, da irmã e de amigos, estudou e conseguiu alcançar seus objetivos. Atualmente, os conflitos com a mãe cessaram.
História parecida tem a trans Cecília Marins, 32 anos, professora há 12 e que já teve um relacionamento estável por oito – mas, diferentemente de Fernanda, Cecília jamais foi vítima de preconceito. “Sou uma privilegiada. Todos me adoram, tenho uma família boa. Se eu disser que, na escola, enfrentei o preconceito, estarei mentindo. Todos me respeitam muito, sabem que eu sou transexual e me tratam como mulher”, diz Cecília. Separada há três anos, a professora conta que o relacionamento começou em uma boate, mas os dois já se conheciam antes. Assim, nunca houve problema por parte de seu companheiro para assumi-la.
Já Fernanda enfrentou problemas também no relacionamento. “O início foi tranquilo, como qualquer relação. Os problemas vêm sempre depois, [...] criados por nós mesmos. No meu caso, eu achava que aquilo tudo era demais pra mim, afinal, tinha tudo que eu queria de um relacionamento: carinho, atenção, companhia e respeito. A maior dificuldade fui eu mesma, que não me aceitava e não deixava que meu marido me beijasse na frente dos outros [...]. Hoje, eu aceito isso”, explica.
A relação estável permitiu que Fernanda fosse “adotada” pela família de Gilberto: “A família dele é muito mais minha família que minha própria, a começar pela minha sogra”. As experiências de Fernanda e Cecília mostram que é, possível, sim, um homem e uma trans encontrarem o amor e permanecerem longe das ruas.
Imagens: Reprodução | * todos os nomes foram alterados para preservar identidades.
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