ARTIGO

Famosas e competentes

Muitas vezes, pensamos que ser uma travesti ou transexual equivale a ser profissional do sexo ou trabalhar em salão de beleza. Mas nem sempre é assim...

por Luciano Rodrigues

Essas duas ocupações evidentemente merecem todo o nosso respeito, mas vale dizer: não somente há muitas trans em outras atividades por aí, como algumas se tornaram verdadeiras celebridades em áreas bem diferentes das que, por assim dizer, estamos acostumados.

RU PAUL

Ela é uma das travestis mais famosas do mundo. Nascida em San Diego, Califórnia, em 19 de novembro de 1960, Ru Paul surgiu para o grande público em 1989, com uma participação no clipe da música Love Shack, da banda B-52s. Tornou-se um ícone em 1993, com o lançamento da música Supermodel (You better work), que chegou à 45ª posição na renomada lista Top 100 da Billboard.

Desde então, coleciona êxitos. Ainda em 1993, regravou, ao lado de Elton John, o hit Don’t go breaking my heart. Em 1995, foi contratada pela empresa de cosméticos MAC. Em 1996, ganhou um talk show na tevê norte-americana e recebeu convidados do porte de Nirvana e Duran Duran.

Em 2005, uma série de bonecas de Ru Paul foi lançada nos Estados Unidos, com enorme sucesso. Ainda hoje, visitantes do museu de cera Madame Tussaud’s, em Nova York, dão de cara com sua estátua – com os mesmos e impressionantes 1,93 m de altura!

CLAUDIA WONDER

Nascida Marco Antonio Abrão, alcançou projeção nacional e atuou como atriz, escritora e militante pelos direitos de homossexuais e afins no país.

No teatro, Wonder teve a oportunidade de trabalhar com um dos maiores expoentes da dramaturgia nacional, José Celso Martinez Corrêa, em Nossa Senhora das Flores. Já no cinema, atuou ao lado de Tarcísio Meira em O Marginal – e, em 2005, trabalhou no clipe Memórias, da cantora Pitty. A loira chegou a ocupar outro posto de destaque, como conselheira representante das pessoas transexuais na Prefeitura de São Paulo. Faleceu no fim de 2010, no auge dos seus 55 anos de idade.

ROGÉRIA

Impossível falar de travestis e transexuais no Brasil sem tocar no nome dela. Rogéria tornou-se um ícone. Nascida em 1943 no interior do Rio de Janeiro, em Cantagalo, 1943, foi registrada sob o nome de Astolfo Barroso Pinto.

Nenhuma outra travesti alcançou tamanha expressão no País. Rogéria participou de dezenas de filmes. O primeiro deles, em 1953, Balança, mas não cai. No teatro, ficou famosa sua atuação em Roque Santeiro, de Bibi Ferreira, em 1987.

Na televisão, sua produção foi ainda mais extensa. Em 1989, participou de um marco da teledramaturgia nacional: a novela Tieta, baseada na obra de Jorge Amado. Em 2002, esteve em Desejos de mulher. Em 2007, Paraíso Tropical. Isso sem falar nas dezenas de participações em seriados como Sai de baixo, Você decide e A grande família.

Ao longo da década de 70, Rogéria construiu uma sólida carreira internacional. Moçambique, Espanha, Portugal e França foram alguns dos países que assistiram a suas performances. Inesquecível, segundo ela, foi o Prêmio Mambembe, recebido em 1979 ao lado de outro “monstro sagrado” do teatro nacional, Grande Otelo, sob direção de Aderbal Freire Filho.

RUSTY MAE MOORE

Nos anos 70, o economista Russel Moore foi professor da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, onde conheceu personalidades como Luis Carlos Bresser Pereira e Eduardo Suplicy.

Em 1995, aos 50 anos, daria uma guinada em sua vida: passou por uma cirurgia de mudança de sexo – e conseguiu, com personalidade, assumir sua nova condição sem abandonar a carreira.

Após dar aula por 15 anos como homem na Universidade Hofstra, em Long Island (EUA), manteve o mesmo cargo, como mulher. Fez-se respeitar até pelos alunos, que passaram a dirigir-se a ela com pronomes femininos. Ganhou novos aumentos de salários, promoções e cargos prestigiosos.

A carreira acadêmica foi mantida sem renegar o passado. Seus inúmeros artigos e publicações, produzidos durante 20 anos de estudo, seguem com o nome masculino.