REPORTAGEM

Travestis e o mercado de trabalho: a luta por espaço

O preconceito que limita travestis de todo o País a terem uma vida normal em pleno século 21.

por Luciano Rodrigues

As dificuldades que as travestis encontram para sair da condição de profissional do sexo e batalhar por uma vida "normal" começam com os problemas no acesso ao ensino – fundamental, médio ou superior. Àquelas, porém, que conseguem superar esses desafios, está reservada uma tarefa ainda mais árdua: entrar no mercado de trabalho.

As explicações são muitas. Começam pela própria aparência física, como explica o psicólogo Marcos Garcia, autor de uma tese de doutorado sobre a formação da identidade em travestis de baixa renda: “Uma mulher que trabalha na prostituição, quando envelhece, tem a oportunidade de mudar de profissão e esconder seu passado. Já a travesti tem muito mais dificuldade por conta do estigma [...]. Se elas não conseguem fazer a vida, ir para a Europa, montar salão, o que acontece é o empobrecimento, podendo vir daí o envolvimento com as atividades ilícitas – tudo fruto da discriminação”

A segregação e o preconceito têm suas consequências: colocam as travestis como vítimas de um sistema imutável, sem possibilidades de lutar por uma inserção na sociedade – mas será mesmo assim? Pressionados pela intensa mobilização da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), governos de todo o País iniciaram ações e algumas barreiras começam a cair.

Um desses projetos começou no Rio de Janeiro. É o Damas, desenvolvido pela Secretaria de Assistência Social. Ao longo de quatro meses, as participantes recebem uma bolsa-auxílio e são assessoradas por uma equipe técnica para terem acesso à educação, capacitação profissional e participação em palestras. Ao final do curso, realizam estágio em empresas privadas, organizações não-governamentais ou órgãos públicos.

Outra iniciativa surgiu a pouco mais de 400 quilômetros dali, em São Paulo, onde a Prefeitura criou, por meio das secretarias do Trabalho, de Participação e Parceria e de Assistência e Desenvolvimento Social, um projeto de reinserção social da população de LGBT, principalmente travestis e transexuais, por meio do Programa Operação Trabalho (POT).

Os moldes são parecidos: os participantes recebem uma bolsa-auxílio e participam de cursos profissionalizantes. O objetivo é inserir as travestis e transexuais no mercado, utilizando cursos como informática, culinária, estética, artesanato, confeitaria de bolos e doces e corte e costura. “Essas pessoas conseguiram, por meio de bolsa-auxílio, caminhar com mais autonomia e ter melhoria de sua autoestima”, diz Franco Reinaudo, coordenador-geral de Assuntos da Diversidade Sexual da Secretaria de Participação e Parceria.

As iniciativas ainda são poucas, em meio a um universo de milhares de travestis que buscam uma alternativa de vida fora da condição de profissional do sexo – mas é possível notar uma semente. Trata-se de uma batalha árdua, que deve ser vencida dia a dia e está muito longe de terminar...