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Silicone industrial

Silicone industrial

REPORTAGEM

Silicone industrial: uma escolha perigosa

Na busca por um corpo perfeito, travestis e transexuais têm se submetido a uma prática clandestina - e arriscada

por Mario Calligiuri

Não é de hoje que os riscos provocados pelo uso do silicone industrial são retratados na mídia ou que organizações de saúde e de defesa de transgêneros (transexuais e travestis) alertam para isso.

Infelizmente, porém, a mensagem parece não ter sido bem assimilada. Ainda é grande o número de travestis e transexuais que apelam para esse tipo de silicone e morrem em “clínicas” clandestinas ou carregam danos muitas vezes irreversíveis.

Motivações
O silicone industrial é um componente químico usado por empresas de aviação civil, automobilísticas e indústrias de produtos plásticos.

No corpo humano, sua forma líquida ou em gel torna possível obter a forma que se desejar e, por isso, costuma ser usado por bonecas principalmente nos seios, bunda, coxas, panturrilhas e lábios. Entre elas, a aplicação da substância é chamada de “bombar” e quem aplica, “bombadeira”.

O problema é que esse tipo de silicone jamais deveria ter essa finalidade. O risco é tão alto que, na embalagem, há uma advertência para se lavar bem a superfície afetada se ele cair sobre a pele – que dirá aplicar dentro de si! Por que, então, tantas trans se interessam em bombar?

A resposta é simples: a necessidade de um corpo perfeito e os baixos valores comparados à aplicação de uma prótese adequada para o corpo humano. É possível comprar cinco litros de silicone industrial ao preço médio de R$ 200 e pagar mais R$ 200 para a bombadeira. Por sua vez, um par de próteses de seios sai, em média, por R$ 2 mil, mais R$ 3 mil da cirurgia em si.

O preço da saúde
Carol é uma bela trans de 23 anos que, aos 18, decidiu ser profissional do sexo e aplicou silicone industrial por “exigência do mercado”: “Eu tomava hormônio e tinha a bunda muito pequena, e os clientes muitas vezes escolhiam as bonecas mais popozudas. Para competir e trabalhar, procurei uma bombadeira”. O barato, porém, saiu caro. Hoje, Carol carrega uma grave deformação na perna, depois que o silicone desceu de suas nádegas.

Seu caso é um em muitos. No centro de São Paulo, mais especificamente na Praça Roosevelt, é possível observar, com certa facilidade, vítimas de “bombadas” malsucedidas. A situação já foi até retratada no espetáculo “A Vida na Praça Roosevelt”, encenado em 2005 pela Companhia de Teatro “Os Satyros”. No enredo, há dois casos de vítimas reais que vivem na Praça: uma carrega uma deformação no peito do pé; e a outra, uma séria deformação no rosto.

A aplicação em si já é traumatizante. Imagine uma agulha da grossura de um palito de dente e cerca de 300 picadas no corpo para aplicar até 15 litros de silicone – e sem anestesia!

A escolha de não se anestesiar parte, na maior parte das vezes, das próprias bonecas. Quem explica é a transexual Andréa Stefanie, vice-presidente do Estruturação – Grupo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) de Brasília e membro do Coletivo Nacional de Transexuais: “Eu já ouvi algumas histórias absurdas de colegas [...] mortas antes e durante as aplicações [...]. Durante as injeções, feitas sem um mínimo de higiene e condições apropriadas, elas preferem não tomar qualquer anestésico: agüentam a dor mordendo uma toalha. Dizem que, com a anestesia, se elas correrem risco de vida, não saberão. Eu e todas as minhas amigas conhecemos relatos de inflamações, infecções e prurido com dor e coceiras que acabam em morte. É um caso de calamidade pública, e o Estado é completamente omisso!”.

Danos no corpo
Do ponto de vista médico, a aplicação de silicone industrial e a falta de condições adequadas de higiene podem causar infecções na pele. É preciso rasgar a parte afetada para a retirada de pus. A pior parte é que a substância pode migrar para vasos sangüíneos, obstruindo-os e levando à necrose.

Por tudo isso, Carol é categórica: “Não vale a pena. Juntem dinheiro para colocar uma prótese correta de silicone. É mais caro, mas, pelo menos, garante-se o mais importante, que é a vida”.

Stefanie também é favorável a que as trans juntem dinheiro para colocar o silicone correto, mas se, mesmo assim, quiserem bombar, alguns detalhes podem diminuir um pouco os riscos: “procurar a ‘bombadeira’ com o maior número de sucessos, utilizar copos e seringas descartáveis, usar lençóis e roupas limpas – de preferência, nunca utilizadas –, tomar antiinflamatórios e algum medicamento que tire a dor após as aplicações, não fazer esforço físico nem sair de casa por, no mínimo, 15 dias e, finalmente, procurar um médico ao primeiro sinal de que algo não vai bem. Dor, vermelhidão, inflamação e líquidos não são comuns depois de uma semana”.

Campo de batalha
Quem – ainda bem – nunca se cansa de combater o uso do silicone industrial são algumas ONGs (organizações não-governamentais) que, vira e mexe, lançam campanhas de conscientização.

Há dois anos, o Centro de Referência GLTTB de Campinas/SP ganhou prêmios com a implantação do Protocolo Paidéia para Redução de Danos no Uso de Silicone Industrial e Hormonioterapia na População de Travestis e Transexuais.

A campanha, apoiada pela Secretária Municipal de Saúde, gerou bons frutos e, mais do que evitar a prática de bombar, tinha como meta oferecer atenção integral à saúde das travestis e transexuais.

Na mesma linha, o Grupo Gay da Bahia já lançou a cartilha “Silicone: Redução de Danos para Travestis” e, mais recentemente, o Estruturação, de Brasília, criou uma campanha de conscientização e combate ao “bombamento” com o slogan “se você quer colocar silicone para se sentir no céu, cuidado! Você pode conseguir”.

Stefanie alerta que não há estudos para saber o número de trans que se bombam, mas que ele não é baixo. “Nossa pesquisa, feita com 69 transgêneros profissionais do sexo do Distrito Federal, menciona uma larga utilização desse método”, salienta a ativista, que também é artista e estudante de Direito, comprovando que existe um mundo muito além das “bombas”.

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