MATÉRIA
É redundante dizer que travestis e transexuais, via de regra, têm enormes dificuldades para conseguir um emprego no Brasil que não seja na prostituição, o que, para muitas, tampouco garante um bom nível de vida.
Mesmo assim, há meninas que saem desse círculo vicioso. Algumas conseguem, com a ajuda da família, se manter no mercado tradicional de trabalho.
Outras buscam melhorar de vida da mesma forma que muitos integrantes da classe média: apelando para o exterior.
Para muitas travestis e transexuais, tentar novas oportunidades em outros países já é prática corriqueira. Para outras, é o sonho, o “ápice da carreira”, a que se soma ainda a possibilidade de fugir do preconceito e de se realizar afetivamente.
Entrevistamos três personagens. Duas delas já trabalharam lá fora. A última pretende ir em breve. É uma boa oportunidade para vermos o que se passa na cabeça de uma boneca.
Glória, rainha!
“Quero viver e trabalhar em um lugar onde eu possa ser tratada como pessoa de verdade”. Essa foi a justificativa de Claudia Bittencourt, 23 anos, quando lhe perguntamos se ela pretendia voltar a trabalhar no exterior, ao que respondeu afirmativamente.
Claudia, paranaense de Cascavel, é solteira. Já esteve na França e, posteriormente, em Miami, nos Estados Unidos. Só voltou porque o visto expirou. Em ambos os casos, atuou como scort girl (acompanhante) – e passou por alguns apertos. “Nos Estados Unidos, é mais arriscado. Trabalhava em boates e clubes noturnos de Miami, onde basta falar ‘portunhol’, que todo mundo te entende [...]. Há esquemas para evitar fiscalização”.
Mesmo assim, considera a experiência válida e gostaria de voltar a ganhar a vida no exterior. A fuga do preconceito foi a principal motivação – e, para ela, bem-sucedida. “Infelizmente, tenho que dizer que preconceito, eu só sofri no Brasil. Lá fora, é outro mundo, outras cabeças. O público trata muito bem as bonecas, me respeitava; me sentia como uma rainha. Infelizmente, no Brasil, é diferente”.
Grandes sonhos, grandes negócios
Regina, 29 anos, é paulistana da gema. Por dois meses e meio, deixou a família e viajou para juntar um pouco de dinheiro e abrir seu próprio negócio. Em termos de idioma, não arriscou: foi direto para Portugal, de onde também voltou por questões de visto. “Para ficar três meses [...], é necessário tirar visto – como de estudante, por exemplo – para não sermos deportadas”.
Na terrinha, entre outras atividades, trabalhou como acompanhante, mas também passou por uma experiência muito interessante: “Trabalhei nas colheitas das uvas, a vindima, [...] quando se colhem as frutas para fazer vinho”.
Para Regina, o problema do preconceito também foi sentido lá fora, “mas, no geral, fui bem recebida. Os portugueses, como os europeus que eu pude conhecer, são um pouco frios, não têm essa hospitalidade que brasileiro tem”. Segundo ela, porém, “basta mostrar um sorriso, que você consegue ultrapassar certas barreiras culturais”.
A paulistana conta que não conseguiu juntar todo o dinheiro que queria – mas a viagem valeu a pena, pois conseguiu terminar de pagar seu apartamento. Os planos para o futuro incluem voltar a trabalhar no exterior, “mas pretendo ficar mais tempo”. Por enquanto, ela prefere ficar por aqui. “Estou estabilizada [...], já tenho um apartamento. Quem sabe, voltar lá para comprar um carro?”.
Terra Nostra
Outra paulistana que nos concedeu entrevista foi Amanda, 26 anos, que ainda não viajou para fora, mas tem um sonho que, dizem por aí, passa pela cabeça de nove em cada dez travestis (ou transexuais): ir para a Itália. No caso de Amanda, definitivamente.
Os motivos são bem elencados pela boneca: “[Quero ir] por causa da situação do Brasil. Está difícil vencer o preconceito, conseguir um emprego fixo e estável. Nossa economia balança toda hora, nosso dinheiro não tem valor. Além disso, é raro encontrar uma empresa que aceite ter em seu quadro de funcionários uma transexual” – e arremata: “Por isso, acabei trabalhando como acompanhante”. Para realizar o sonho, Amanda já tem juntado dinheiro com o programas e conta com uma possível vantagem: a ascendência italiana. “Meus avós por parte de mãe são de lá. Estou tentando descobrir se posso pedir cidadania italiana. Caso eu consiga, pretendo fazer um curso de idiomas e mudar para lá”.
Apesar disso, existe uma segunda alternativa, mas que parece mais complicada. “Um cliente japonês me convidou para ir para o Japão, mas fico preocupada, outra língua. Sei ‘arranhar’ um pouco de inglês e espanhol [...] Às vezes, temos clientes gringos. Eles pagam melhor”.
Conclusões?
Por meio das entrevistas, pude notar que, apesar das discussões que percorrem o Brasil acerca dos direitos das minorias sexuais (transexuais e travestis incluídas), o preconceito ainda é muito grande em nosso país. Nota-se a ocorrência do preconceito “enrustido”: todos, em teoria, aceitam as diferenças; mas, na prática, a intolerância e a ignorância persistem.
Soma-se a isso o aspecto econômico e social do Brasil. O salário mínimo é injusto, a renda per capita é uma das piores do mundo. São fatores que também acabam por levar travestis e transexuais a uma exclusão social.
Por outro lado, embora se ganhe, em média, mais dinheiro no exterior, percebemos que, muitas vezes, também lá “a” alternativa é se tornar acompanhante. Haveria realmente menos preconceito e mais oportunidades? A se pensar.
Hoje em dia, muito se comenta sobre os T-Lovers, termo que designa os homens que gostam de travestis e transexuais.
LEIA MAISDicas importantes para sair em segurança com uma T-girl e curtir sem dor de cabeça
LEIA MAISFabrício M., 22 anos, e Sergio L., 24 anos (nomes fictícios), têm duas coisas em comum: ambos são fascinados por travestis – e, quando transam com uma, gostam mesmo é de ser passivos.
LEIA MAISTrês vezes por dia e muito tesão: transar demais causa problema "lá"?
LEIA MAISCopyright © 2013 - TranSites - Termos legais. É proibida a reprodução do conteúdo deste website em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização da TranSites.